terça-feira, 2 de junho de 2009

Juventus completa 85 anos

Escrevi uma matéria para a faculdade sobre a história do Clube AtléticoJuventus, um dos times mais queridos de São Paulo.

Resolvi reproduzi-lá para vocês.


O TIME DA MOOCA

A história do Juventus, um clube de origem humilde, que se tornou conhecido no país inteiro

Fundado de maneira oficial no dia 20 de abril de 1924, o Clube Atlético Juventus comemora esse ano o seu 85º aniversário. Ele é mais antigo, por exemplo, que o São Paulo Futebol Clube, uma das três maiores equipes de futebol da capital paulista. E é justamente por vitórias em cima dos gigantes da cidade, popularmente conhecidos como “trio de ferro”, que se tornou conhecido e querido não só no bairro, mas em toda a cidade.

Criado a partir da fusão de dois tradicionais times de várzea da Mooca, o Extra São Paulo e o Cavalheiro Crespi FC, resolveram usar o vermelho, preto e branco, do Extra São Paulo, como cores do novo uniforme. Como os dois times eram formados, em sua maioria, por funcionários da antiga fábrica de tecidos da família Crespi, adotaram primeiramente o próprio nome da empresa, chamando-se então Cotonifício Rodolfo Crespi FC.

Sediada na Rua Taquari - onde hoje está o Hipermercado Extra -, a estamparia foi fundamental na história juventina. O italiano Rodolfo Crespi, dono da indústria, era um amante do futebol. Por isso deu total apoio à criação da equipe, cedendo inclusive um terreno na antiga Alameda Javri, atual Rua Javari, para a construção do estádio.

Também foi idéia de Crespi, em 1930, que o clube mudasse seu nome para Clube Atlético Juventus. A princípio ele queria que o uniforme fosse alvinegro, aos moldes do Juventus Football Club, tradicional time italiano da cidade de Turin. Mas como Corinthians, Santos e os extintos Ypiranga e São Paulo da Floresta já usavam essas cores, escolheram o grená e branco.

NASCE O MOLEQUE TRAVESSO
Ainda em 1930, totalmente repaginado, o time deixou de ser um vitorioso do futebol amador para ganhar manchete no cenário nacional. Em seu primeiro Campeonato Paulista da Divisão Principal, o Garoto - como era conhecido -, venceu o poderoso Corinthians no estádio do Parque São Jorge por 2 a 1, gols de Nico e Piola.

Nesse momento surgiu o apelido que até hoje nos remete ao Juventus, criado a partir das palavras do jornalista do jornal A Gazeta Esportiva, Tomaz Mazzoni. Ele disse que a vitória juventina foi uma “travessura de um moleque que ousou vencer um gigante em seus próprios domí­nios”. Desde então, o Juventus passou a ser conhecido como o Moleque Travesso.

Vencer o Corinthians no alçapão da Rua São Jorge era considerado um grande feito para um time de bairro. Mas o Juventus não se contentou e aprontou outras travessuras. Uma delas foi sagrar-se a primeira equipe a levantar uma taça no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu.

O Torneio Relâmpago do Pacaembu, disputado em 1940, foi organizado pela prefeitura de São Paulo, e comemorava a estréia do estádio municipal. Disputado contra Santos, Portuguesa e Hespanha, o caneco foi levantado pelo time grená, que bateu seus três adversários. A final contra a Lusa, foi vencida por 3 a 0, gols de Ferrari, Danilo e Neves.

MUDANÇA ESSENCIAL
Durante a década de 50, o Juventus passou por um dos momentos mais difíceis de sua história. A família Crespi, grande mantenedora da entidade, resolveu se afastar da diretoria por desentendimentos internos. Sem investimentos e com medo fechar as portas – algo que aconteceu com importantes equipes da época, como o Ypiranga e o São Paulo da Floresta -, o clube entendeu que deveria criar outros meios de sobreviver.

Foi aí que Roberto Ugolini, importante presidente do Juventus entre 1958 e 1974, lançou o projeto da criação de um clube social. A atitude visionária ia de encontro com a constante evolução da Mooca, um bairro que ostentava prosperidade e um alto nível de famílias residentes. Por meio da compra de títulos dos associados, a então nova opção de lazer da Mooca, se tornou a maior fonte de renda do clube, com uma área na Rua Juventus – nome dado em homenagem a entidade - de aproximadamente 80 mil m², ampla estrutura e que atualmente conta até com escola de idiomas. Esse fato foi essencial para que o Juventus se mantivesse vivo até hoje.

Morador do bairro desde que nasceu, Ernesto de Paula Schivicci, de 75 anos, lembra-se bem dessa época. “Estava com quase 30 anos quando comprei o título familiar no recém-inaugurado clube do Juventus. Lá passei inúmeros finais de semana com a minha família e tenho orgulho de ser sócio até hoje, junto com meus filhos, netos e bisnetos”.

Ele também explica a relação dos moradores da Mooca com o time de futebol. “Muitos moradores simpatizavam por algum time popular, como o Palmeiras, que tem ligação com a nossa colônia italiana. Mas o coração de todos aqui no bairro era e deve ser sempre do Juventus”. Saudosista, afirma que na época a população acompanhava mais a equipe, mas diz que ainda hoje a torcida comparece aos jogos. “Tem uma garotada que sempre está no Estádio da Javali apoiando o time”.

AMOR ETERNO
Embora Schivicci ache que a torcida do Juventus não comparece da mesma forma que antes, esse grupo citado por ele dedica-se a ir a todas as partidas do Juventus, dentro ou fora de São Paulo. A trupe, conhecida como Setor 2, em alusão ao setor do estádio em que se reúne para ver os jogos, canta e pula durante o tempo todo.

Foi com o apoio deles que o Juventus conquistou recentemente o que o próprio clube classifica em sua página na internet como o mais importante título ganho por eles no século XXI: a Copa Federação Paulista de Futebol, competição que garantiu uma vaga inédita para os juventinos na Copa do Brasil de 2008. A final foi disputada contra o Linense, time do interior paulista, em dois jogos.

Naquele domingo de 27 de novembro de 2007, a equipe grená poderia perder por até um gol de diferença para ser campeã, já que havia ganho o primeiro jogo em Lins. Não se falava em outra coisa nas ruas da Mooca que não fosse o jogo.

A partida começou com o estádio lotado, eram 9000 pessoas apoiando o Moleque Travesso. Aos 45 minutos do segundo tempo o Juventus perdia por 2 a 1, resultado que garantia o título. Mas justo nesse minuto, o árbitro marcou um pênalti para os visitantes, que fora bem convertido pelo atacante Fausto.

A torcida adversária já fazia a festa, e talvez nem o mais fanático juventino imaginasse alguma reação. Mas o improvável aconteceu; no último minuto, o lateral João Paulo chutou uma bola de fora da área, indefensável para o arqueiro da Linense. O estádio explodiu em festa. O mesmo local que já havia sido palco de brilhantes travessuras e que viu, em 1959, o gol mais bonito de Pelé, dessa vez abrigava torcedores que choravam de emoção por uma vitória que simbolizava a vida difícil e vitoriosa do clube.

Assim é o Juventus. Uma história de dificuldades, escrita através do suor de imigrantes italianos que se instalaram na Mooca, e que com muito ardor constituíram suas famílias e construíram suas vidas na nova pátria.

As raízes do clube estão tão fincadas no bairro, que se torna impossível imaginar um sem o outro. Não se pensa na Mooca sem os bailes da terceira idade, sem os tradicionais jogos de bocha, sem as piscinas lotadas de sócios ou sem os almoços de domingo no restaurante, todos realizados no clube. O time grená também não teria o mesmo charme se estivesse situado em outro lugar. Mooca e Clube  Atlético Juventus se completam de tal forma, que podem ser considerados praticamente partes de um mesmo corpo.

2 comentários:

  1. Apenas dois reparos: o nome do clube é CLUBE ATLÉTICO JUVENTUS e o Conde Rodolfo Crespi era italiano da cidade de Busto Arsizio, na Lombardia.

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  2. Já alterei Sérgio.

    Muito obrigado pela correção!

    Abraços!

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