terça-feira, 30 de junho de 2009

Tempo: essencial para o bom viver

Não sou nenhum especialista em psicologia infantil e nem de longe estudo o assunto, mas, na toada da morte de Michael Jackson, podemos fazer uma rápida análise sobre algo que aconteceu na vida dele e que acontece em outros segmentos, como o futebol, o mundo televisivo e até nas nossas próprias vidas: a alta carga de responsabilidade depositada em crianças e a falta de tempo que elas tem para viver a infância.

Michael nasceu em uma pobre família de negros americanos. Com grande talento para a música, ele e seus irmãos foram descobertos pela gravadora Motown, a mesma que lançou Diana Ross e Stevie Wonder. Os Jackson Five, como eram chamados, fizeram enorme sucesso a partir do final dos anos 60 e tinham como vocalista justamente o pequeno Michael, com apenas 8 anos de idade, mas com voz e presença de palco marcante.

O problema é que o pai dos garotos, que na época era extremamente ignorante, surrava-os quando achava que eles não tinham mandado bem nos shows. Agora, imagine a cabeça de uma criança, no alto de seus medos, descobertas e inocência, já sabendo que carregava nas costas a saúde financeira de toda a sua família? E mais, se ele fracassasse, seria surrado!

Saindo um pouco do caso do chamado Rei do Pop, ao olharmos bem, veremos outras histórias, não tão trágicas, mas parecidas com essa. No futebol, por exemplo, ninguém entendeu a atitude de Adriano, quando deixou de se apresentar na Inter para passar alguns dias na favela em que nasceu. Lá, empinou pipas, conversou com amigos e fez coisas que o profissionalismo precoce no futebol o impediu que fizesse.

E enquanto ele fazia isso, a mídia e nós perguntávamos “como ele pode fazer isso? Ele tem o emprego dos sonhos de quase todo homem, casas luxuosas, mulheres, carros, contratos publicitários...”. Pois é, para nós, que tivemos todas as etapas da vida respeitadas, é difícil entender. Agora pra quem, desde cedo, se torna responsável pelo sustento de várias pessoas, não é tão fácil assim. Muitas vezes, o dinheiro e o sucesso não são capazes de superar as máculas de uma infância interrompida.

Aproveito para citar mais um caso do tipo, como o de Macaulay Culkyn, astro precoce dos cinemas que estrelou filmes como “Meu Primeiro Amor” e “Esqueceram de mim”, sucesso nos anos 90. Após a infância com grande exposição na mídia, ele teve uma juventude complicada, com brigas judiciais entre seus pais para ver quem tomaria posse de sua fortuna de aproximadamente US$ 17 milhões.

Voltando agora ao assunto da semana, a morte de Michael Jackson, fica claro, pelo menos para mim, que a exploração de seu pai, a extrema exposição na mídia desde cedo, a falta de oportunidade de viver como uma criança comum, somadas a aparente deficiência psicológica para lidar com tudo isso, foram predominantes para que ele se transformasse em algo tão bizarro.

Suas atitudes anormais e compulsivas, o isolamento da imprensa, as cirurgias plásticas infames e a paixão doentia por crianças – que para mim era loucura e não pedofilia –, foram resultado de um trauma vivido desde a infância.

Por isso, a ação movida pelo Ministério Público de São Paulo contra o SBT, pelo excesso de horas trabalhadas pela menina Maysa, pequena apresentadora de televisão, foi louvável. Medidas como essa podem evitar que anomalias futuras sejam sentidas por pessoas que não tiveram a infância respeitada.

Após essa pequena análise de fatos, digo que não devemos, em hipótese alguma, nos negar a conceder, a cada momento, o tempo que lhe é devido. Famosos e crianças que pedem esmolas no farol são vítimas típicas disso, mas nós, “seres normais”, devemos cuidar para não deixar que esse mal nos atinja. E agora não falo especificamente da infância, mas de tudo. Pensadores e a própria Bíblia diz isso:
“Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.” Friedrich Nietzsche

“Quem mata o tempo não é assassino, mas sim suicida.” Millôr Fernandez

“O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida.” Charles Darwin

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz." Eclesiastes 3 de 1 a 8 (Bíblia)
Mediante a isso, aproveite cada momento de sua vida. Mesmo que ele pareça ser sem importância ou irrelevante. Digo isso, pois a vida não lhe dará nenhuma outra chance de viver esse momento novamente.

8 comentários:

  1. Filhão, adoramos o seu artigo, saiba que não é porque somos seus pais que estamos dizendo isto, mas é que dá para perceber que voce tem talento, continue escrevendo e saiba que voce pode contar conosco sempre. Te amamos e torcemos muito por voce. Val e Wi.

    ResponderExcluir
  2. Comcordo com você ivan !

    Que possamos todos viver uma vida Roots !

    Ivan ta faltando uma materia de torcidas organizadas heim ...

    ResponderExcluir
  3. Ivan, parabéns pelo texto. Atual, contextualizado e necessária reflexão nos dias atuais. Temos muito o que falar sobre o tempo, mas quero tecer 1 consideração sobre a infância e o tempo:

    Hoje as crianças não brincam mais, elas simplesmente interagem com a tecnologia disponível e/ou ficam assitindo o dia todo a porcaria da televisão. Quando asistem a TV Cultura, Discovery Kids ou NetGeo Infantil até vá lá, mas de resto, para mim parece desprezível (excetuando meu querido Chaves - eterno! rsrsrs). Mas não há mais crianças bricando na rua, jogando futebol, empinando pipas, bricando de esconde-esconde, pega-pega, enfim, interagindo com as outras crianças. Isso faz com que as crianças não vivam como crianças e percam seu tempo fazendo coisas que quando forem adultas farão corriqueiramente: assistir TV e utilizar o computador.

    Claro que isso pode justificar-se pela mudança dos tempos, avanços da tecnologia, violência, etc., mas acho que a infância deve ser vivida na rua ou, no máximo, na estrutura de lazer disponível na maior parte dos condomínios fechados, interagindo com as outras crianças, para que possam ser realmente crianças e não se traumetizarem e seguirem o péssimo exemplo de Michael Jackson, Adriano e outros.

    ResponderExcluir
  4. Mandou bem irmão!

    ResponderExcluir
  5. Muito bom Ivan, parabéns pelo texto!

    Vou acompanhar sempre seu blog daqui pra frente.

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  6. Ivan,
    Parabéns pelo texto, você fez uma abordagem primorosa. Se os grandes veículos de comunicação tomassem a morte de M. Jackson por essa perspectiva, as matérias sobre o assunto teriam um teor de conscientização e não de especulação.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  7. Parabéns pelo seu texto, grande análise e mais do que isso sensibilidade!!!

    Beijos

    Letycia

    ResponderExcluir
  8. É Ivanzitcho, poucas pessoas como nós tiveram a sorte de aproveitar bem a infância. Nem todo mundo foi criado com amor, carinho e respeito como a gente. Temos q dar graças a Deus por sermos pessoas normais e adoráveis rs...
    Parabéns Ivan, seu texto ficou mto bom!!

    ResponderExcluir