quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Homenagem aos dez anos de Marcelo Teixeira

Do Jornal da Tarde

Dez anos do imperador


Entre "salvador" e "ditador", Marcelo Teixeira está prestes a completar uma década na presidência do Santos. E reluta em sair do trono


por Alex Sabino


Marcelo Pirilo Teixeira, 45 anos, foi criado para ser presidente do Santos. Há quase dez anos no cargo, o clube pode não ser dele de direito. Mas é de fato. "Não é mais Santos Futebol Clube. É só Santos Futebol. Clube não é. É propriedade privada", constata Celso Leite,antigo aliado defenestrado do Conselho Deliberativo por contestar o cartola.

Entre os dirigentes dos grandes clubes do Estado, Teixeira é quem está há mais tempo no poder. Foi eleito em dezembro de 1999 com o compromisso de conquistar títulos e democratizar o Peixe. Por caminhos tortuosos, cumpriu a primeira promessa. Sob sua administração, foi colocado ponto final no jejum de 18 anos sem troféus. Foram dois brasileiros e dois estaduais. Mas fez o inverso no que se refere à democracia. Deu golpe no estatuto que permitiu se perpetuar no cargo. Tirou o limite para reeleições, entre outras medidas.

"Não se trata de continuísmo. Nós sempre gostamos de dizer que é a continuidade de um trabalho", contesta o próprio presidente, sempre que perguntado.

É jogo de palavras que mostra muito de sua personalidade. Afável no trato pessoal, é incapaz de dizer não. Quando rejeita algo, adia a decisão e ganha tempo até que isso não seja mais possível. Para o público externo, adota discurso conciliador. Nos bastidores, é um rolo compressor.

"Quando aparece dissidência ele apela para o consenso. Mas não porque deseja consenso. Marcelo quer saber quem são seus adversários para identificar o elemento mais fraco do grupo. É uma pessoa carismática pessoalmente. Mas essa é uma característica dos ditadores", apela Orlando Rollo, associado que foi à Justiça pedir transparência nas contas do clube.


"Esse clube é dele"


Herdeiro de uma das famílias mais ricas da Baixada Santista, Teixeira nos últimos anos conseguiu se descolar do dinheiro da família. De acordo com pessoas próximas, não se desligou totalmente, mas está menos envolvido com o dia a dia da Universidade Santa Cecília. E conseguiu sua fortuna pessoal.

"Acho que ninguém pode negar ao Marcelo o mérito de ser santista. A paixão pelo time está no sangue da família. Creio que isso acaba sendo também um problema para ele como presidente. É primeiro torcedor, depois dirigente", analisa Francisco Lopes, diretor de futebol entre 2001 e 2005.

Mas é um torcedor que detesta ser contrariado. Certa ou errada, é a sua opinião que prevalece sempre. Talvez por isso todas as pessoas que o criticaram ou (mais grave, para ele) o enfrentaram foram afastadas da vida do clube. "Ele sempre foi assim. Marcelo é meio mimado mesmo porque foi o primeiro filho homem do (ex-presidente) Milton (Teixeira). Aos 18 anos ganhou uma BMW no tempo em que ninguém tinha BMW", revela um amigo da família.

Envolvente, sabe bem se aproveitar do fato de Santos ser uma cidade onde todos se conhecem e se relacionam socialmente. Sua força econômica faz com que muitos o temam. "Ele utiliza a política do terror", ressalta Rollo. Não por acaso, um dos seus mais fiéis escudeiros, Alberto Francisco de Oliveira, o Alemão, ao ouvir críticas ao presidente na porta da Vila há cerca de um ano, começou a berrar: "Você pensa o quê? Esse clube aqui é do Marcelo."


R$ 22 milhões por nada


A reunião aconteceu no final de 2001. Era uma ordem disfarçada de pedido: o dinheiro da família não poderia mais ser colocado no Santos. Não porque os Teixeira não quisessem ajudar o clube. A situação estava insustentável.

No seu primeiro mandato, o presidente eleito com promessa de títulos colocou cerca de R$ 22 milhões no Peixe. Quase toda a fortuna para financiar contratações caras e fracassadas.

"A política do Marcelo sempre foi comprar para ganhar. Mas o Santos só se deu bem quando abriu mão dessa estratégia", declara Paulo Maeda, ex-diretor das categorias de base.

Quando assumiu, o presidente recém-eleito negociou parceria com o grupo mexicano Octagon. O intermediário foi Fernando Silva, candidato derrotado pelo próprio Teixeira na eleição seguinte, em 2001. E um dos seus mais ferrenhos opositores. "Negociar com ele foi muito difícil porque cada hora colocava um empecilho. O Santos precisava da parceria, mas parecia que o Marcelo não queria. Foi inexplicável", relembra Silva.

O contrato não foi fechado. O time necessitava de reforços e o presidente, dar satisfação aos torcedores. Essa foi uma característica de seu período no poder. Todas as vezes em que teve de optar entre uma aquisição útil para o elenco ou outra de impacto, escolheu a segunda opção.

"Era preciso fazer alguma coisa. Quando assumimos o elenco tinha poucos jogadores e não de qualidade para honrar a camisa do Santos", disse Teixeira.

Eram 13, para ser mais exatos. O cartola meteu a mão no bolso e foi às compras. Nos primeiros dois anos, o clube contratou alguns dos atletas mais caros do País. Rincón, Carlos Germano, Fábio Costa, Galván, Márcio Santos, Robert, Valdo, Valdir, Edmundo e Marcelinho Carioca e Cléber. Entre outros.


Apesar dos empréstimos, os títulos não chegaram.


No segundo semestre de 2000, a realidade já batia à porta. Contas de luz tiveram de ser pagas às pressas para que a energia da Vila Belmiro não fosse cortada. O Santos atrasava salários e, quando pagava, os cheques não tinham fundos ou eram sustados. O caminho de 10 jogadores foi entrar na Justiça contra o clube. Faltava até sensibilidade com os dramas alheios. Narciso, então se recuperando de transplante de medula, ouviu como justificativa para o não pagamento de seus salários que a 'prioridade era de quem estava jogando.'

"Fui para o Santos porque pensei que era um clube sério", disse o zagueiro Galván. O reinado de Teixeira por pouco não acaba antes de começar.

Eles salvaram o Peixe

Quando parecia que o clube estava no fundo do poço, veio a redenção

O ano era 2005 e a decisão estava tomada: por consenso entre Marcelo Teixeira e a totalidade do Conselho Deliberativo, Robinho não seria vendido. Para selar a aliança, o presidente pediu que todos dessem as mãos e rezassem um Pai Nosso e uma Ave Maria. As orações foram feitas em coro de mais de 300 vozes. Teve conselheiro que chorou.

Uma semana depois, o Santos vendeu Robinho para o Real Madrid por US$ 30 milhões (R$ 53 milhões, em valores atuais).

Era o final do sonho. Justamente quando abriu mão da política de contratações caras, o Peixe chegou aos títulos. Mas não fez isso por opção. Apenas não havia outro caminho. "Não deixa de ser irônico. Marcelo só se socorreu da base quando não teve jeito. Foi aí que ganhou", declara Paulo Maeda, o esquecido responsável pela formação do time campeão brasileiro de 2002.

Não havia dinheiro nem para o treinador. A contratação de Emerson Leão foi intermediada pelo ex-presidente da Federação Paulista, Eduardo José Farah. Em contraste com os R$ 500 mil que em 2006 pagaria a Luxemburgo, o Santos levou o técnico por R$ 45 mil mensais.

Comparado com o elenco atual, que tem dificuldade para chegar perto da zona de Libertadores, a equipe de 2002 foi formada quase de graça. Na semana da decisão contra o Corinthians, Robinho teve o salário reajustado para R$ 3,5 mil. Diego ganhava R$ 7 mil. Alex, R$ 5 mil, mesmo salário do capitão Paulo Almeida. Somado, o valor não chega perto dos R$ 90 mil recebidos hoje por Neymar.


Elano


O que poucos sabem é que aquele time quase não saiu do papel. Robinho esteve perto de ser levado para o São Paulo. Só não deixou o clube pela intervenção de última hora de Zito, assessor da presidência.

"E ainda teve o episódio do Elano. Ele quase foi devolvido para o Guarani", revela um diretor que ainda está no clube.

O meia, hoje no Galatasaray, da Turquia, brigou para deixar o Bugre, que o queria de volta. Teixeira chamou Maeda e ordenou que o Peixe entregasse o garoto para o clube de Campinas.

"Perfeitamente. O senhor faça uma carta e assine, por favor."

"Não. Assine você", desconversou Teixeira.

"Não, presidente. Amanhã esse menino vai jogar na Seleção e o senhor não vai assumir que o dispensou", rebateu Maeda.

O cartola voltou atrás na decisão e Elano ficou.

O título de 2002 foi a redenção de Teixeira. Mas seus assessores mais diretos notaram mudança em seu comportamento. Se antes era centralizador, mas condescendente, o cartola passou a não ouvir mais ninguém. (A.S)


A conta que não fecha


"Gastos gerais", artimanhas contábeis e tropa de choque nos balanços do Santos

"O dinheiro de Robinho." A frase já foi dita muitas vezes na Vila. Refere-se não só aos milhões arrecadados com a venda do atacante, mas também de toda a geração revelada em 2002. Invariavelmente, é acompanhada da preocupação com a situação financeira atual do Peixe.

Seus opositores dizem que os números do Santos são um buraco negro. Teixeira garante não haver motivo para preocupação. Mas é verdade que, a cada eleição, ele não mede esforços não apenas para permanecer no cargo, mas para colocar um nome de confiança na presidência do Conselho Deliberativo. Assim como em postos chaves da comissão fiscal, que deveria fiscalizar as contas da diretoria.

Em 2005, o cartola fez de tudo para impedir que Odílio Rodrigues Filho, secretário municipal de saúde, derrotasse seu candidato, Florival Amado Barletta. Até telefonou para o prefeito da cidade, João Paulo Tavares Papa, pedindo intervenção.

A preocupação é porque os balanços do Santos costumam apresentar dados que são de difícil explicação. Como no ano passado, quando mostrou R$ 8 milhões na rubrica 'gastos gerais'.

"O que são gastos gerais? Ninguém consegue responder isso", pergunta o associado Fabio Viana, que se especializou em vasculhar os números do clube.

A geração Diego e Robinho rendeu cerca de R$ 155 milhões para os cofres alvinegros. "O Santos não é banco para dar lucro. Investimos no CT e reformamos a Vila", irrita-se o presidente, quando confrontado.

Mas a conta não bate. De acordo com os balanços, desde 2001 foram colocados R$ 16 milhões nas categorias de base e no patrimônio do clube. O presidente não admite que o gasto excessivo com o futebol seja justificativa. Mas apenas entre 2006 e 2008 os departamentos de esportes, especialmente o futebol, consumiram R$ 204 milhões.

A constatação frustra os que achavam que a fortuna arrecadada seria a redenção financeira. Entre os quais se inclui o próprio Teixeira. Após a negociação de Robinho com o Real, ele disse que a grana asseguraria estabilidade para o Santos por "muito tempo". No ano passado, o déficit foi de R$ 24 milhões. E o valor só foi esse porque o presidente pediu R$ 10 milhões de adiantamento das cotas de televisão.


Tropa de choque


Na hora de votar o balanço no Conselho, Teixeira coloca em campo a tropa de choque. Quem pede a palavra para questionar o cartola é recebido com vaias. O objetivo é intimidar.

Suas contas sempre foram aprovadas. Mesmo as de 2001, aceitas com ressalvas porque o clube lançou mão de expediente ilegal segundo o Conselho Federal de Contabilidade. Usou o valor de multas rescisórias de atletas como ativo. "O Santos inflou o balanço em mais de R$ 200 milhões", denuncia Viana.

O próprio Peixe reconheceu o erro e vem corrigindo contabilmente ano a ano. Nos tempos de bonança, retificava R$ 40 milhões. Desde 2007, são apenas R$ 2 milhões.

O Conselho Deliberativo nunca levou em consideração nem erros crassos. Como a dívida de R$ 455.175 com a Conmebol nas contas de 2005. O conselheiro Orlando Rollo apresentou documento da entidade provando que o Peixe não devia nada e que os números do clube estavam errados. Resultado: três votos contra e mais de 300 a favor da aprovação do balanço.




Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 - Celebridades - Música - Esportes

Nenhum comentário:

Postar um comentário