quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Homenagem ao Centenário Corinthians

Abaixo, posto uma matéria que escrevi para uma revista que meu grupo está produzindo na faculdade. Para tal, entrevistei o jornalista e professor Celso Unzelte, maior referência no planeta quando o assunto é Corinthians, e republiquei declarações do Dr. Sócrates, ex-jogador do Timão.

O tema merece um texto bem maior. No entanto, o limite imposto pelas páginas impressas me obrigaram a escrever menos.

Se tiverem tempo, deem uma olhada.

ÉS DO BRASIL O CLUBE MAIS BRASILEIRO
Centenário Corinthians, que nasceu para se opor a elite que dominava o futebol, é um dos poucos clubes grandes com origem humilde
Foto: Ivan Pagliarani
 
Quando o radialista Lauro D’Ávila, em 1951, compôs o hino do Corinthians, talvez ele ainda não tivesse a noção exata de que o final do verso “Corinthians grande, sempre altaneiro. És do Brasil, o clube mais brasileiro” se tornaria tão real. Na época, o alvinegro do Parque São Jorge já era a equipe de futebol mais popular no Estado de São Paulo, no entanto, sua fama ainda era pouco difundida em todo o território nacional. Hoje, depois de quase cinquenta anos que a letra do hino foi escrita, o time que comemorou seu centenário neste ano conta com cerca de 30 milhões de torcedores fiéis não a títulos, craques ou estádio, mas sim a história de luta e garra de um clube que foi construído pelo povo.
  
Trazido da Inglaterra por Charles Muller em 1894, o futebol tinha, até meados da década de 30, seus principais times dominados pela elite. Para defendê-los, os atletas deveriam preencher a dois requisitos básicos: pertencer às altas classes sociais e ser de raça branca. No Corinthians era diferente. O clube foi o primeiro entre os grandes do Estado a banir essa prática, já que, desde sua origem, a única exigência para vestir a camisa alvinegra era demonstrar que tinha amor a ela, seja o jogador branco, negro ou estrangeiro.
 
Origem humilde
O Sport Club Corinthians Paulista, cujo nome homenageia o inglês Corinthian-Casuals - time que excursionou no Brasil durante aquela época e que venceu equipes do Rio de Janeiro e de São Paulo -, foi fundado na noite de 1º de setembro de 1910 por cinco trabalhadores humildes: o sapateiro Rafael Perrone, o motorista Anselmo Correia, o trabalhador braçal Carlos Silva e os pintores de parede Joaquim Ambrósio e Antônio Pereira. Reunidos na esquina da Rua dos Italianos com a José Paulino, iluminados pela luz de um lampião e rodeados por alguns moradores do bairro, dificilmente eles imaginavam a dimensão que aquele ato tomaria.

O único objetivo desses trabalhadores era o de criar uma opção de lazer para os sofridos operários e moradores do bairro. É o que explica o jornalista e historiador Celso Unzelte, que, dentre outras obras, é autor do livro Almanaque do Timão e co-roteirista de Todo Poderoso: O Filme - 100 anos de Timão. “O time nasceu pela vontade inicial de cinco operários do bairro paulistano do Bom Retiro, que de início pretendiam apenas jogar futebol na várzea. No entanto, eles acabaram criando um verdadeiro fenômeno social.” Segundo o jornalista, quase nenhum grande clube brasileiro tem a origem humilde, assim como o Timão. “O Vasco, do ponto de vista da oportunidade dada a jogadores de classes sociais mais humildes, teve um começo no futebol semelhante ao do Corinthians”, explica Unzelte. “Mas, a maioria dos clubes brasileiros, principalmente os maiores, está ligada as altas classes sociais.”
 
Foto: Ivan Pagliarani 
Depois de três anos de bons resultados na várzea e de uma popularização incomum, o Corinthians foi convidado, em 1913, para participar da liga oficial, a Liga Paulista de Foot-Ball, o que significou uma vitória e tanto para o povo.  A mudança, em 1916, para o Parque São Jorge, na região do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, ajudou ainda mais na popularização do clube. “Foi um feliz casamento do clube destinado a ser o mais popular com a região mais populosa de São Paulo”, diz Celso Unzelte.

Sofredor, graças a Deus
Um fator característico do Corinthians e, principalmente de seu torcedor, é o sofrimento. Dentre os quatro grandes de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo), o Alvinegro é o único que não ganhou uma Taça Libertadores da América. Seu primeiro título de dimensão nacional só aconteceu em 1990, quando conquistou o Campeonato Brasileiro. Além disso, entre 1954 e 1976, o clube não ergueu um troféu sequer. Mesmo assim, a torcida só cresceu. “Nada explica a Fiel Torcida. Na época do jejum de títulos houve uma polarização: quem gostava de futebol para ganhar, torcia por clubes como Santos e Palmeiras. Quem se comovia com o drama corintiano, ficava do lado do Timão. E esses não foram poucos”, conta Unzelte.
 
O ex-jogador Sócrates, que vestiu a camisa alvinegra na década de 80, também tem sua teoria para explicar a Fiel Torcida. “O corintiano é o brasileiro. É aquele que é derrotado em um dia, que ganha no outro, mas que nunca perde o amor pela vida e, neste caso, pelo Corinthians”, afirmou em depoimento ao Todo Poderoso: O Filme - 100 anos de Timão.
 
Política em campo                                             Foto: Globoesporte.com 
O mesmo Sócrates faz parte de um movimento que enche o torcedor alvinegro de orgulho: a Democracia Corintiana. Liderado por ele, Wladimir e Casagrande, no início dos anos 80, o movimento apoiou o voto direto no país e fez com que o clube desse direito aos atletas de opinarem e decidirem sobre todas as ações do departamento de futebol. “Foi uma tentativa de reproduzir no futebol os anseios de liberdade que já vinham ganhando espaço na sociedade brasileira. A Democracia ainda ajudou em uma maior nacionalização do Corinthians, mais fora de campo do que dentro dele, uma vez que não rendeu títulos nacionais”, explica Celso Unzelte. Sócrates define a mensagem que os atletas passaram da seguinte forma: “Conseguimos provar que qualquer sociedade pode e deve ser igualitária e que podemos abrir mão dos nossos poderes e privilégios em prol do bem comum.” 
 
Em sua política interna, assim como o Brasil, o Corinthians também teve momentos nebulosos. Foi assim nas gestões ditatoriais de Wadih Helu (entre 1961 e 1971) e de Alberto Dualib (de 1993 a 2007), que por meio de acordos políticos se perpetuaram durante anos na presidência do clube. Foi durante a gestão de Dualib que foi firmada a parceria com o grupo de investidores MSI (Media Sports Investiment), que levou o clube às páginas policiais e que culminou no rebaixamento, em 2007, para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. No entanto, apoiado no lema “Eu nunca vou te abandonar”, criado pela torcida, o clube se reergueu e segue trilhando seu caminho de sofrimento, devoção, mas também de muitas alegrias.
 
MARCAS HISTÓRICAS
 
Primeiro Gol
Luís Fabbi marcou o primeiro gol da história do Alvinegro. Foi na vitória por 2 a 0 em cima do União da Lapa, no dia 14 de setembro de 1910.
 
Maior Artilheiro
Cláudio Christovam de Pinho, ou simplesmente Cláudio, defendeu o clube por 554 partidas (entre 1945 e 1957), balançando as redes por 306 vezes.
 
Recordistas de jogos
O lateral-esquerdo Wladimir vestiu a camisa alvinegra em 806 partidas (de 1972 a 1983), tornando-se o jogador que por mais vezes defendeu o clube.
 
Colecionador de títulos 
Cabe a Marcelinho Carioca o feito de ser o atleta que levantou mais títulos pelo clube. Ao todo, foram dez canecos em oito anos.

Um comentário:

  1. Parabéns, Ivan!

    Apesar do seu fanatismo acerca do Corinthians, você até que conseguiu ser "imparcial" em boa parte do texto. Belíssimo trabalho de pesquisa e de reportagem!

    saudações alviverdes!

    ResponderExcluir