sexta-feira, 24 de abril de 2009

Efeitos do mundo corporativo


Nem o mais pessimista torcedor, fã, simpatizante ou sei lá o que do tradicional time de vôlei da cidade de Osasco, poderia imaginar que uma notícia, como a de segunda-feira, pudesse ser publicada. Recordista de finais da Superliga Feminina, 10 em 15 edições, o Finasa/Osasco anunciou o fim de suas atividades como equipe profissional.

Tudo bem que de uns anos pra cá, principalmente depois da saída do treinador bi-campeão olímpico José Roberto Guimarães, o Osasco se caracterizou por ser "freguês" da equipe do Rio de Janeiro. Mas o trabalho realizado com crianças a mais de 20 anos em Osasco é tido como exemplar, e o fim do time profissional com certeza o afetaria.

O time começou após uma parceria entre o extinto Banco BCN - que mais tarde foi comprado pelo Bradesco - e a prefeitura da cidade da Grande SP. Com a criação do BCN/Osasco, um forte projeto de base que trabalha com crianças de todas as classes sociais passou a ser realizado, formando não só atletas, mas cidadãos através do contato com o esporte.

Poderia citar vários nomes e rostos conhecidos dentro do vôlei que são frutos deste projeto, mas vou ficar com só um exemplo: Paula Pequeno, campeã olímpica em 2008, está no clube a 11 anos, chegando lá aos 14 de idade. A jogadora já recebeu várias propostas do exterior, mas sempre se negou a sair. Depois de dar provas de respeito ao clube, Paula recebeu uma ligação 2 dias após perder o titulo da Superliga, informando que estava desempregada porque o patrocinador desistiu do projeto. É mole?

No início da década de 2000, quando o Bradesco comprou o BCN, ele adotou o time do Osasco, que passou a se chamar Finasa/Osasco - Finasa é uma das empresas do Grupo Bradesco. O banco não parou por aí, além de manter o patrocínio, investiu alto trazendo comissão técnica e jogadoras de peso. Mas parece que a exigência pelos melhores resultados, tão comuns dentro do mundo corporativo, fez com que o banco tomasse a atitude de encerrar seu ciclo dentro do vôlei.

A diretoria do Bradesco não deu maiores explicações sobre o termino da parceria - e consequentemente do time -, disse apenas que era a hora de sair. Sites ligados ao esporte especularam que a crise econômica mundial poderia ser o maior motivo. Mas como uma empresa que teve o maior lucro de sua história no segundo semestre de 2008 poderia sofre com essa crise? Hipótese sem fundamentos!

O mais provável é que o banco tenha se cansado de ver sua marca ligada aos vice-campeonatos seguidos do time, e por isso abandonou o projeto. O silêncio de sua explicação é a maior prova disso, pois não há argumentos para o que é óbvio. Se de fato eles estivessem passando por problemas financeiros, por que continuariam patrocinando as categorias de base? Tudo bem que investir na base é bem mais barato do que os altos salários pagos a equipe profissional, mas se o problemas fosse dinheiro, com certeza o banco acabaria com todas as suas ligações com o vôlei.

Por uma semana, quatro campeãs olímpicas - Carol Albuquerque, Paula Pequeno, Thaissa e Sassá -, além de todas as outras atletas e a comissão técnica, se viram desempregadas. É uma pena o vôlei campeão olímpico passar por uma situação dessa um ano após conquistar o título. É mais triste ainda saber que os clubes são totalmente dependentes dos patrocinadores. Já pensou se o Flamengo deixasse de jogar por causa do fim do patrocínio da Petrobras?

Achei a postura de Bradesco lamentável, mas o banco é uma instituição privada, portanto eles fazem o que bem entenderem com o dinheiro deles. O que a CBV - Confederação Brasileira de Vôlei - deve fazer agora, é brigar por uma independência maior dos clubes, a fim de dar mais segurança aos atletas e profissionais. A confederação que se diz a mais organizada do país, não pode deixar que seus clubes filiados sejam tão reféns da iniciativa privada. O objetivo deve ser um só dentro do melhor vôlei do mundo: o de que o patrocinador procure os clubes, não o contrario.


OSASCO RESSULCITA

Méritos totais ao prefeito de Osasco, Emídio de Souza. Ele conseguiu apoio de empresários que irão patrocinar a equipe para a próxima temporada. A levantadora Carol Albuquerque já renovou contrato, e o treinador Luizomar agora assume também a gerência do time.

Um comentário:

  1. Hoje em dia eu acho que nao há como haver times de grande niveis com boms atletas sem patrocinador.Infelizmente !

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